quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

106 - Música e ditadura "Cálice"


Um exemplo é Chico Buarque de Holanda. Ameaçado pelo Regime Militar no Brasil, esteve exilado na Itália em 1969, onde chegou a fazer espetáculos com Toquinho. Nessa época teve suas canções Apesar de você ( que dizem ser uma alusão negativa ao presidente Emílio Médici) e Cálice censuradas pela censura brasileira ( o cálice representa o "cale-se", justamente a falta de liberdade de expressão).


Uma das canções que criticam a ditadura é uma carta em forma de música é a Meu caro amigo, feita quando estava exilado na Itália.



Cálice


Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta


De que me vale ser filho da santa
Melhor ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta


(refrão)


Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado


Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa


(refrão)


De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta


Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade


(refrão)


Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar meu próprio pecado
Quero morrer no próprio veneno


Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar a fumaça do óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

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