sexta-feira, 16 de abril de 2010

143 - A caixa de Pandora

Logo depois de Prometeu ter roubado o fogo sagrado dos deuses para dá-lo à humanidade, Zeus decidiu impingir severos castigos à raça humana que culminaram com a grande enchente.
 
Antes da enchente, porém, sua ira era mais branda, mas ainda não aplacada. Zeus ordenou que Hefesto, o deus ferreiro fabricasse com barro e água, um corpo, e que ao mesmo fossem concedidos a força vital e a voz, e que esta jovem virginal fosse tão linda quanto as deusas imortais. Todas as divindades lhe concederam dons especiais e a criatura recebeu o nome de Pandora.
 
Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outro a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Hermes, porém, pôs no seu coração a traição e a mentira.
 
Foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, juntamente com uma grande arca. O irmão já havia lhe prevenido para que não recebesse nenhum presente dos deuses e tentou recusar a oferenda, contudo, ao lembrar-se do terrível castigo que o rei dos deuses havia imposto a Prometeu, Epimeteu - cujo nome significa percepção tardia - apressou-se a desposar Pandora.
 
Prometeu, antes de ser aprisionado no topo da montanha, conseguiu alertar Epimeteu para que não tocasse na arca e este transmitiu a alerta a Pandora com ameaças assustadoras. Porém, Hefesto criou Pandora tão bonita quanto fútil e irresponsável. E assim abriu a tampa da caixa, pela qual escaparam os males que Zeus havia recolhido - a velhice, o trabalho, a doença, a insanidade, o vício e a paixão -, espalhando-se pela Terra e contaminando a humanidade. A esperança, que por algum motivo fora trancada na arca junto com os males, foi a única que não escapou.
 
A imagem de Pandora é o símbolo da esperança que se encontra no ser humano, a despeito das frustrações e dos desapontamentos, da depressão e das perdas, que ainda tem forças para se agarrar ao sentido da vida e ao futuro que poderá superar a infelicidade do passado.
 
Pandora não representa apenas a convicção nos planos futuros, ou a solução dos problemas individuais, ela é um aprendizado de paciência, pois a esperança é uma tênue luz que brilha e nos guia, porém, não dissipa a escuridão da vida. A escuridão é algo profundo e misterioso, pois parece que transcende qualquer coisa que a vida nos ofereça, sob a forma de catástrofe.
 
Este ângulo da esperança não tem nenhuma ligação com as expectativas programadas. Está na verdade ligado a este algo mais profundo dentro de nós que muitas vezes chamamos de força para viver e que - a despeito de ser uma experiência subjetiva, sem nenhum motivo aparente -, quase sempre mostra a diferença entre a vida e a morte. Ela não surge de um ato da vontade, simplesmente aparece misteriosamente dentro de nós e nos leva a perceber o brilho suave de nossa luz e, então, nossa reação às dificuldades será radicalmente alterada.


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